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12/10/2018 Sustentabilidade

Por que ecologia humana?

A nossa vida é feita de escolhas. E quando decidimos fazer algo com determinação e amor, o Universo dá os sinais. Porque como diziam os gregos, largamente divulgado pelos filósofos socráticos: “Só sei que nada sei”.

Depois de alguns obstáculos, desde a dificuldade em preencher os dados no site da Universidade até a transferência do valor em Euros pelo câmbio do banco que utilizo, fui aprovada para o Mestrado na Universidade Nova de Lisboa. Quanto mais pesquiso, viajo e falo sobre Cultura e Sustentabilidade, mais fica claro que sei muito pouco. Isso nutriu a minha persistência. E assim, só assim, o meu anteprojeto “A canção da Natureza e a Natureza da Canção” chegou à FCSH (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas) e foi aceito no Mestrado de Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos. Como? Ecologia Humana? Problemas Sociais Contemporâneos, a gente sabe muito bem o que é. Principalmente aqui no Brasil. Mas Ecologia Humana… Essa foi a reação da maioria das pessoas que recebia minha notícia diante do meu semblante eufórico que rapidamente caía na real e tentava explicar um mundo até então pouco conhecido.

A palavra Ecologia tem origem no grego “oikos” que significa CASA e “logos” estudo. Então seria o estudo da casa, ou o estudo do lugar onde se vive. O cientista alemão Ernst Haeckel usou pela primeira vez o termo em 1866 para designar o estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente. Essa ciência estuda também a distribuição e a abundância dos organismos e as condições que determinam essa distribuição. Podemos concluir que a Ecologia Humana privilegia estudar uma espécie específica que se encontra no topo da cadeia alimentar. E que por ser dotada de inteligência, também é a espécie que mais altera o ambiente que vive. O meio ambiente ou ambiente está em constante interação evolucionária pois nele agem fatores bióticos (fauna e flora), fatores abióticos (solo, água, ar, energia, etc) e a Cultura Humana (com seus paradigmas e valores).

A criação da Ecologia Humana como ciência é atribuída à Escola de Chicago que produziu entre 1915 e 1940 um vasto e variado conjunto de pesquisas sociais para investigar os fenômenos resultantes da urbanização e crescimento demográfico dessa grande metrópole. Chicago presenciou o surgimento de fenômenos sociais denominados “problemas sociais” como o crescimento da criminalidade, delinquência juvenil, aparecimento de gangues, bolsões de pobreza e desemprego e a formação de comunidades segregadas (guetos). Os estudos dos problemas sociais estimularam a elaboração de novas teorias e conceitos sociológicos, além de novos procedimentos metodológicos. Assim elaboraram o conceito de Ecologia Humana para sustentar teoricamente os estudos de sociologia urbana, considerando a cidade como um “laboratório social”.  Então a Ecologia Humana surge como um estudo científico das relações entre os homens e o meio ambiente, incluindo as condições naturais, as interações e os aspectos econômicos, psicológicos, sociais e culturais.

O ambiente é percebido como um ecossistema. Um ecossistema é tudo em uma área específica – o ar, o solo, a água, os organismos vivos e as estruturas físicas, incluindo as alterações provocadas pelos humanos. No entanto, mesmo fazendo parte da comunidade biológica, os estudos de ecossistemas, geralmente consideram relações entre todas as espécies e a natureza, menos as pessoas que são propositadamente deixadas fora do escopo. A ecologia humana, por outro lado, promove a ideia de que os seres humanos não devem ser excluídos como uma parte não natural de um ecossistema natural. Talvez por reconhecer que seres humanos tem a maior influência sobre as mudanças nos ecossistemas principalmente pós revolução industrial, este tipo de ecologia ensina que humanos são seres complexos que expressam objetivos conscientes através do mundo natural. O comportamento de uma pessoa é influenciado pelo conhecimento mais valores, crenças e objetivos conscientes. As culturas em desenvolvimento e as sociedades emergentes podem construir seus valores e objetivos em relação à natureza a partir de novos valores como solidariedade, sustentabilidade e resiliência.

Nesse ponto do texto, já entendemos qual o principal objeto de estudo da Ecologia Humana, entretanto tamanha dimensão de aspectos analisados dificulta delinear a qual ciência pertencemos. Várias ciências reivindicariam propriedade sobre a ecologia humana. A biologia, a partir do estudo das cadeias tróficas e o ser humano, por exemplo. Já a geografia humana, com as dispersões populacionais e os estudos migratórios. A sociologia, através da pesquisa social-metabólica das comunidades humanas. A antropologia, com os estudos adaptativos-culturais da raça humana. E a psicologia, através das pesquisas que relacionam o meio ambiente e o comportamento humano. Dessa maneira chegamos à conclusão de que ecologia humana é uma ciência transdisciplinar, que toca todos esses campos e exige, para uma pesquisa séria, uma cuidadosa escolha do objeto de estudo, das metodologias e das disciplinas mais adequadas.

Uma premissa básica de uma teoria ecológica humana é a da interdependência de todos os povos do mundo dos recursos do planeta. O fato é que muitos danos ambientais foram e ainda são causados, por decisões políticas e econômicas equivocadas. Todavia, a sustentabilidade ecológica do mundo depende de decisões e ações tomadas não só pelas nações, mas também por indivíduos, famílias,  comunidades. E por ser uma ciência nova, a Ecologia Humana tem ainda muito a oferecer para evolução da ciência humana, contribuindo com bases teóricas para o desenvolvimento sustentável, para as novas economias (regenerativa, circular, solidária, criativa), apontando limites e perspectivas que o homem precisa ter no seu processo evolutivo na nossa casa comum.

Colaboradores

Carla Visi

carlavisi@uol.com.br